Para se obter uma boa interpretação precisa-se considerar as marcas do autor, ou seja, o seu estilo. Desse modo, é necessário estar atento ao vocabulário utilizado, o emprego gramatical, o raciocínio verbal e quais recursos linguísticos e estilísticos, vulgo figuras de linguagem, o autor utilizou para formular o seu texto.
Entretanto, muitas pessoas têm dificuldade em se interpretar charges ou tirinhas, o que prejudica, além da compreensão, o objetivo, por exemplo, de passar em algum concurso. Existe alguns recursos textuais que são bastante utilizados na criação desses tipos de texto. Então, vem comigo que eu vou te passar as dicas!
A primeira coisa que você deve entender sobre charges e tirinhas é que não se deve “achar a graça”. Achar humor em algo ou não é muito subjetivo, por isso, não busque o que há de engraçado nela. Deve-se buscar no humor elementos linguísticos mais concretos, como a Quebra de expectativa. O humor surge do inusitado, sendo assim, tenha muita atenção quando algo que você não está esperando acontecer, pois é aí o foco da maioria das questões interpretativas relacionadas a tirinhas ou charges.
O que devemos observar nelas é o tema, a quais questões políticas, sociais ou culturais, quais discursos ou comportamentos típicos da sociedade estão criticados e quais elementos concretos (cenário, pessoa, ações, gestos) estão sendo retratados. Assim sendo, existem mecanismos que levam a quebra de expectativa:
A ambiguidade é composta por uma frase ou expressão com dupla possibilidade de leitura que decorre de uma Polissemia, recurso que representa a multiplicidade de sentidos que uma só palavra pode ter. Vejamos no exemplo abaixo:
A tirinha do Armandinho é bastante utilizada em provas e, nesse exemplo, ela mostra muito bem o emprego da polissemia que existe na expressão “vendo o pôr do sol” por causa da múltipla interpretação que a palavra “vendo” tem, o que causa, em seu contexto, a ambiguidade. E onde está o momento exato da quebra da expectativa?
Quando trabalhamos com tirinhas, cada elemento é de suma importância. Observe cada quadrinho, sempre. No primeiro quadro, a interpretação que temos é que a expressão “vendo pôr do sol” está com o sentido de venda, portanto, a sua expectativa para os outros quadros deve ser que ele mantenha o diálogo de venda, não é verdade? Mas logo no segundo quadro ele essa quebrou a expectativa e entrou com o outro sentido da palavra “vendo” na expressão: o de ver/assistir/observar o pôr do sol.
Outro recurso muito utilizado em charges e tirinhas para a quebra de expectativa é o da ironia, que é a frase que contém a afirmação que pretende ser entendida pelo seu contrário.
Em caso de charges, que ao vir com recursos verbais, exige do leitor que ele tenha a maior atenção aos elementos concretos que compõe a imagem. A ironia, que engaja a quebra de expectativa, está na combinação do recurso verbal (a fala no balão) e quem a está verbalizando (a figura do diabo) com o receptor da mensagem (o rapaz que segura o celular). A expectativa do rapaz ao ouvir o conselho do Diabo é que ao realizar a postagem não haverá conflito. É o que também esperamos por olharmos primeiramente para a fala. Mas ao olharmos para os elementos concretos, quebramos a nossa expectativa com a atitude do rapaz com o celular. Podemos observar, então, o sentido contrário ao que se anuncia, ou seja, a ironia.
A paródia é construída para ter uma ideia contraria ao que foi expresso anteriormente de forma irônica e satírica, podendo conter, também, o uso da polissemia. Além disso, o objetivo da sua mensagem é a crítica e/ou reflexão do seu leitor.
Ao observar o conjunto da tirinha, ficamos com a expectativa de que Hagar entenda a fala “irônica” da sua esposa. Mas há a quebra, não só em sua fala, mas em seu pensamento (representado pelos balões informativos) e sua atitude ao permanecer sentado. Mas será que na paródia pode haver intertextualidade?
A intertextualidade está presente em vários textos, pois acredita-se que um texto ao ser construído, ela não sai do “zero”, precisa de uma ideia, ou mesmo outro texto, que lhe sirva de fonte de inspiração. Sendo assim, a paródia entre textos se trata de uma releitura cômica ou oposta à obra original. Como na charge abaixo, feita em 2011, no início do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff:
Outro recurso muito utilizado é o da paráfrase e a intertextualidade nela, incide na temática. Já ouviu alguém comentar que está “parafraseando” uma outra pessoa? Essa expressão é utilizada por causa do conceito de paráfrase: reafirmação de uma ideia, ou seja, traduzir, com outras palavras, o contexto de uma obra.
Você sabe a o que ou quem essa imagem se refere? Mesmo que as palavras, o estilo e a estrutura sejam diferentes, a ideia principal continua sendo transmitida.
Sendo assim, os recursos textuais estão completamente ligados ao conceito de intertextualidade. O amor, por exemplo, é uma ideia, um assunto que é abordado há milênios por diversas pessoas em seus textos. Mas quem foi o primeiro a comentar esse tema? Não sabemos! Por isso, ao entrar em contato com as linguagens verbal, não verbal e mista, para se ter uma boa interpretação, não esqueça dos intertextos. Acesse o seu conhecimento de mundo, do seu dia a dia para se obter melhor compreensão. ;)






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